sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A Árvore da Vida


(The Tree of Life, 2011)





Gênero
Drama
Duração
139min 
Origem
EUA
Direção
Terrence Malik
Roteiro:
Terrence Malik
Produção:
Dede Gardner, Sarah Green 
Atores:
Brad Pitt, Jessica Chastein, Sean Penn




Terrence Malik(Alem da linha vermelha) é um nome forte, apesar de possuir pouquíssimos filmes gravados. Ele passa anos entre um projeto e outro. Mas até agora todos seus filmes foram um incrível sucesso de criticas, e eu já previa um chuva de notas 10 e criticas “procuro qualidades” para A Árvore da Vida.  Existem certos críticos, que cheguei a adivinhar as notas que eles dariam para o filme, logo que foi lançado o trailer. Mas isso não vem ao caso. Tentei assistir a esse filme ignorando totalmente o nome Malik e tentando ver esse filme como uma obra de um desconhecido, para evitar favorecimentos e veja só, apesar de excelente, o resultado não foi nem perto do que muitos afirmam por ai.


Eu pessoalmente achei o filme quase perfeito. Esteticamente não temos como por defeitos nele. Mas não é só disso que um filme é feito, ainda mais A Árvore da Vida, que veio com a pretensão de não ser chamado um filme de arte(o que no fim das contas ele é). Ao tentar isso e ser lançado como um filme convencional, ele se arrisca a ser julgado como um filme convencional, e nesse aspecto o filme deixa muito a desejar. A historia é confusa, imagens são constantemente mostradas sem sentido algum, a linha de tempo é bastante desrespeitada, tudo formando um filme meio sem pé e nem cabeça para a grande maioria, que entrara na sala de cinema esperando um filme de drama bonito sobre uma historia familiar. E ele esta longe de falar sobre isso.

O filme conta a historia da vida de Jack(Sean Penn) um jovem que cresceu nas mãos de um pai(Brad Pitt) carrasco e linha dura e uma mãe(Jessica Chastein) carinhosa e submissa. Tudo piora quando seu irmão mais novo morre aos 19 anos, fato que sua família nunca consegue superar e marca a vida de Jack para sempre. Teoricamente uma historia familiar certo? Errado. Isso é fundo para algo bem maior. A Árvore da Vida nos conta a historia da vida propriamente dita, desde como ela surgiu, após o Big Bang, até o ponto em que se iniciaram os primeiros seres vivos e sua extinção, depois voltamos para a vida de Jack, que é contada desde seus pais se conhecendo, passando pelo nascimento, infância, experiências e aprendizados, culminando no apocalipse e o fim de toda vida, sempre pondo em guerra evolucionismo e criacionismo, na medida em que os próprios protagonistas vivem em constante conflito com a imagem de Deus em suas vidas. Parece algo interessante e realmente seria, se Malik tivesse dado mais sentido as cenas perdidas, e uma linha cronológica mais firme ao filme.




A árvore da vida é um filme religioso. A maioria das falas do filme são direcionadas a Deus, como questionamentos, duvidas, falta de Fé e declarações de amor. A temática religiosa é levantada e posta a prova do inicio ao fim do filme, como se o próprio diretor estivesse em conflito interno de que se acredita ou não na existência de Deus. Esse embate começa na medida que ele mostra cenas do Big Bang e começa a mostrar o inicio do universo, planetas e da vida do ponto de vista evolucionário, enquanto a mãe de Jack fala sobre Deus, de sua importância e sobre ele ter criado a vida, totalmente em contraste com as imagem que vemos. Mas apesar do contraste, em nenhum momento Deus é desacreditado nem pela historia nem pelos personagens. Jack tenta definir Deus na sua vida, sem nunca deixar de acreditar em sua existência. Em relações a idéias o filme vai fundo na discussão sobre a existência e o sentido da vida.

O debate religioso é visível durante toda projeção, mas o filme vai alem, estendendo-o a metáforas que ele deixa em aberto para quem conseguir entender. A própria vida de Jack é uma grande metáfora sobre Deus e a vida em geral. Seu pai é uma personificação de Deus, ele exige de seus filhos tudo que Deus nos exige, e os pune quando não é obedecido, fazendo seus filhos obedecerem por medo e não por amor. Mas ao mesmo tempo ele faz tudo isso por amor aos filhos, pois apenas quer que eles sejam pessoas boas e que tenham sucesso na vida. Nesse ponto Árvore da vida é simplesmente genial. Detalhes como quando seu pai obriga os filhos a chamá-lo de senhor, a ficarem calados sem ter motivo, apenas por que ele manda e diz que é o melhor, ou quando ele exige que os filhos o amem sem ele dar motivo para tal, podem ate passar despercebidos para muitos, mas são todas citações bíblicas reais. O filme nos faz pensar sobre Deus, ao mesmo tempo em que vemos como Deus age e o que ele exige de nos ao vermos o Pai de Jack educar seus filhos, e muitas vezes nem notamos a semelhança. O ponto forte da comparação é quando Jack fala “por que eu vou ser bom, se você também não é?” nesse ponto nos não sabemos se ele esta falando sobre o pai, sobre Deus, ou sobre ambos.

Ao mesmo tempo em que o pai de Jack faz o papel de Deus na vida dele, sua mãe faz o papel do amor, pois como ela própria afirma “sem amor, sua vida vai simplesmente passar rápido”. A mãe dele perdoa, afaga, ajuda, e defende. Mas sempre fica submissa as ordens supremas de Deus, que fala que por mais que amemos, não devemos criticar ou desafiar a Deus. E acima de tudo, ela ama a Deus, pois tudo que Deus faz também é por amor. Jack seria a vida em geral, que pode seguir o caminho da bondade e da maldade, e ele se vê entre esses dois caminhos todo tempo. A vida de Jack atual em nenhum momento tem importância, pois ele vive corroído por memórias de seu passado e de sua infância. Ele escolheu o caminho de Deus, e não o do amor, e por isso sua vida “passou” e ele só tem lembranças de quando ele “amava”. Mesmo tendo desperdiçado sua vida, ele assume que nunca deixou de amar a Deus, como nunca deixou de amar ao pai, e mesmo velho ainda mantém forte relação com o pai.

Graficamente o filme é uma obra de arte. As cenas perdidas são belas, e a seqüência do inicio da vida, apesar de muito longa e arrastada, é extremamente linda e detalhada, que faria qualquer documentário sobre a evolução ficar com inveja. Com referencias visíveis a “2001 Uma odisséia no espaço” de Stanley Kubrick, o filme nos mostra belas cenas, beirando a realidade, sobre o nascimento do universo e da terra, utilizando as mesmas técnicas usadas por Darren Aronofsky em “A Fonte da Vida”. Por mais de 15 minutos somos apresentados ao inicio da vida em seus mínimos detalhes, até que o filme realmente começa com quase meia hora de exibição já passada. Esse talvez foi o principal erro de A árvore da vida, pois tornou a película confusa logo de cara, e isso cansa bastante a platéia, que já vem de uma introdução confusa e sem sentido de cenas aleatórias antes dessa sequencia. A temática e metáforas são geniais e a qualidade gráfica perfeita, com uma fotografia iluminada para ressaltar a temática divina, porem a edição é propositalmente confusa deixa o filme confuso, cansativo, e muito arrastado. Quando o filme de verdade começa e ele fica interessante, a maioria da platéia já desistiu de gostar do filme, e não vê a hora de ele acabar, e ai temos mais de duas horas de espera ate o desfecho da trama, que consegue ser mais confuso e sem pé nem cabeça que o inicio, apesar de entendível se você se esforçar bastante, mais uma vez o filme fica confuso propositalmente.

Voltando a falar de Malik novamente, fato que evitei ate agora, ele escreveu uma obra arte, mas dirigiu para sua própria satisfação, e não a do publico. Ele fez um filme para ele, com seus debates pessoais, seus conflitos e que com certeza o agradou no resultado final, mas ele não se preocupou em agradar ao publico em geral com isso. Ele sabia que não precisava agradar ninguém, pois apesar de ser o publico que paga os filmes, muitos diretores só se importam com “A crítica” e “A crítica” não iria falar mal de um filme dele, nem se este realmente fosse ruim. Se isso foi algo proposital que ele quis fazer, só tenho algo a dizer, “Touche”
As atuações estão magníficas, Brad Pitt(Clube da Luta), mais uma vez com sua imitação facial de Marlon Brando que ele fez em Bastardos Inglorios, prova que sabe fazer mais que filmes de ação, e que sua capacidade para papeis difíceis não morreu. Ele passa todo amor de um pai carrasco que só quer o bem dos filhos, sentimentos ambíguos que só são possíveis na real paternidade. Jessica Chastein(A dívida) Faz o contraste perfeito do autoritarismo do pai, sem deixar de amá-lo ou respeitá-lo, ela se vê necessária para seus filhos, mas nunca mais importante do que a figura divina do pai para eles e para ela própria. O ganhador do Oscar, Sean Penn(Milk- A voz da igualdade) faz quase uma participação especial, com poucas cenas, e menos falas ainda. Suas falas no filme podem ser contadas com os dedos das mãos. Sendo que na grande maioria da película vemos seu personagem em idade infantil, interpretado pelo iniciante Hunter Mackraken, o garoto faz o papel dele legal, mas passa a impressão que esta sempre com dor de dente.
A Árvore da Vida é uma bela experiência cinematográfica, mas ficaria mais bem encaixada como cinema de arte, e não no cinema convencional. Ao tentar ousar, Terrence Malik acaba entregando sua obra de arte para o julgamento popular e isso prejudicou muito o resultado final. Como filme de arte ele seria nota 10 sem duvida, por tratar de uma temática pesada e difícil sem apelar para um dos dois lados. Mas como filme convencional ele peca ao ser cansativo e confuso demais, se tornando um filme que não terá muitos fãs. Se decidir assisti-lo, tome um cafezinho antes e vá preparado para ver um filme com muitas cenas belas e sem sentido e poucos, porem geniais, diálogos. Esse foi o primeiro filme que me fez achar algo incrivelmente magnifico e insuportável ao mesmo tempo!

A Árvore da Vida
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