quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro

(Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro, 2010)






Gênero
Ação/Drama
Duração
115min 
Origem
Brasil
Direção
José Padilha
Roteiro:
Bráulio Mantovani
Produção:
Marcos Prado, José Padilha
Atores:
Wagner Moura, Irandhir Santos, Andre Ramiro




Meio atrasado falar desse filme, que já citei várias vezes, mas há um motivo especial para isso. Foi anunciado recentemente que o ministério da cultura, se achando os tais por isso, indicaram o filme para concorrer a uma vaga no Oscar 2012, como melhor filme estrangeiro! Demais né? Será mesmo? Essa crítica foi escrita para dar base à crítica que farei sobre essa notícia. Sim uma crítica dupla e acredite em mim, Tropa de Elite 2 ser indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2012 não é uma coisa boa. Vou me restringir a início, apenas comentar o filme em si antes de, apenas ao fim, falar minha opinião sobre tal indicação, que nem certeza é.


Não vou falar, como previamente já comentei aqui, sobre o cinema nacional e sua grande evolução nos últimos anos, mas falar apenas sobre o filme. Quando Tropa de Elite estreou em 2007 foi aquele “Aue”. Primeiro por que tinha uma historia boa, envolvida com a sociedade, bem diferente daquelas comédias “Grande Família” sem a menor graça, e um filme brasileiro com uma historia boa era novidade na época. Segundo por que todo mundo queria ver marginal apanhando na cara e sendo asfixiado com um saco de supermercado. O filme foi um sucesso absoluto, bem recebido pelo público, crítica e pelo mundo. Mas APENAS pela sua história repleta de críticas psicossociais. A qualidade técnica do filme é baixa, e quando digo baixa, digo sem orçamento mesmo. Quando começou a ser gravado era um filme desconhecido, de um cinema decadente, sem câmeras modernas, sem equipamentos modernos e contando apenas com um nome de peso, que na época nem tinha a força de hoje em dia, que era Wagner Moura. E ainda assim conseguiu um sucesso incrível dentro e fora do Brasil. Mas ele fora daqui é quase um filme de arte. Aqueles que você vê, mas que não pode competir com grandes produções.

Mas devido ao incrível sucesso, mesmo com todos os problemas, era só questão de tempo para duas coisas acontecerem, primeiro a continuação ser confirmada, segundo os olhinhos americanos brilharem para isso. Então eis que temos Tropa de Elite 2 – O inimigo agora é outro. Apostando mais uma vez em uma história de crítica social, dessa vez com uma pitada de ficção. Mas além de uma história nos moldes do primeiro sucesso, puxando mais para o lado de roteiros policiais, incluindo vilões e uma historia linear. E o principal diferencial do primeiro para o segundo filme, orçamento e produção. O segundo filme conta com um orçamento muito superior ao primeiro, e uma produção com câmeras e equipamentos de ponta, sem falar que a direção de Padilha foi incrivelmente superior, com tomadas belíssimas e 
inteligentes. E o melhor de tudo, TOTALMENTE brasileiro. Não é só na cara da sociedade que Tropa de Elite deu “um tapa” dessa vez, mas em Hollywood, sendo um filme incrivelmente superior a varias produções “gringas” de 2010, e provando que capacidade não é só americano que tem, pelo contrário, qualidade é algo raro hoje por lá. Já foi o tempo que eu evitava filmes nacionais por baixa qualidade. Hoje em dia, o número de filmes americanos que evito por ter certeza de ser um total fracasso supera muito em porcentagem os nacionais (filmes bons/filmes totais por ano).



A história é quase uma continuação do primeiro. Depois de uma rebelião sangrenta na penitenciária de Bangu I, as vidas do agora Coronel Nascimento (Wagner Moura) e capitão Matias (Andre Ramiro) mudam drasticamente, assim como a vida no novo marido da ex-esposa de Nascimento, Fraga (Irandhir Santos). Enquanto Matias foi feito de bode expiatório e expulso do BOPE, Nascimento foi promovido a subsecretário de segurança pública. Uma vez no poder, Nascimento transforma o BOPE em uma máquina de guerra e quebra o tráfico de drogas no Rio. É nesse momento que o real inimigo aparece e o crime toma uma forma bem mais violenta e perigosa, com o aparecimento das milícias, lideradas pelo Major Rocha (Sandro Rocha) e o deputado Fortunato (Andre Mattos). Antes Nascimento combatia o crime por dever, mas agora a guerra vai se tornar pessoal, quando ele vê seu filho envolvido no conflito.

A história vai bem além disso, mas falar mais que isso sem dar spoilers é quase impossível. Mas é simplesmente um dos roteiros policiais mais inteligentes que já vi. A evolução da trama e o início das milícias é simplesmente perfeito, não sendo forçado e mostrando toda evolução dos personagens em seus vários estágios de vida. O filme passa por anos, e todos os personagens evoluem, ganham poder e promoções. E o melhor, tudo no backstage, Padilha não esfrega na sua cara o que cada personagem fez para crescer, eles crescem simplesmente ao fundo da historia e você que se de o trabalho de perceber ou não.

A qualidade da direção é de um nível que no Brasil, apenas Fernando Meireles tinha atingido. Tomadas belíssimas foram feitas nas favelas, como o quando o helicóptero sobrevoa um campo de futebol cheio de crianças, começando rapidamente uma batalha entre o BOPE e os traficantes. A cena me lembrou muito Pearl Harbor, na cena em que os aviões japoneses aparecem enquanto crianças jogam beisebol e param ao ver os aviões, antes de nos. Naquela época essa cena já havia me maravilhado e Padilha conseguiu o mesmo efeito. O carro de Nascimento sendo fuzilado em Slow Motion no inicio é simplesmente de uma qualidade técnica incrível, com direito a uma piadinha genial sobre os roteiros tristes dos filmes policiais atuais de Hollywood. Tecnicamente o filme é perfeito, com uma qualidade bem superior ao nível nacional. Não existe concorrência brasileira para o filme, que ouso falar ser a melhor produção nacional já feita. Pode parecer brincadeira, mas até para fazer uma cena rápida de Jiu Jitsu, Padilha procurou os Gracie para gravar. (Para quem não conhece os Gracie são os criadores do Brazilian Jiu Jitsu e referencia mundial na arte marcial)

Atuações mais uma vez são incríveis. É desnecessário falar de Wagner Moura (O homem do Futuro). Ele já provou por “A mais B” ser o melhor ator brasileiro da atualidade e um dos melhores do mundo, melhor que muitos ganhadores de Oscar por ai. Mais outro diferencial de Tropa de Elite 2 é que ele não depende só de Moura. Dessa vez o elenco é de peso, com nomes fortes e todos fazem sua parte. Irandhir Santos encarna com perfeição seu defensor dos direitos humanos, Deputado Fraga, mas não cai na mesmice e não o torna chato. Mesmo você discordando dele, você até entende seus argumentos, e percebe que ele é capaz de lutar contra o crime tão eficazmente quanto os tapas na cara que Nascimento distribui. Milhem Cortaz sempre competente volta com seu, agora Coronel Fabio, sendo responsável pelas tiradas e citações desse filme. Andre Mattos começa fazendo graça com seu Fortunato, mas depois prova ser um ótimo ator, ao criar um vilão duas caras e sem escrúpulos. O resto não faz menos do que era esperado, principalmente Andre Ramiro e sua nova versão de Matias, agora caveira de corpo e alma.

Ai você me pergunta, se o filme é tão bom por que ele não deveria concorrer ao Oscar? Exatamente por ser bom. Tropa de Elite 2 é muito superior a maioria de filmes americanos de 2011 e não precisa se prostituir ao Oscar para provar isso. Um simples Oscar de melhor filme estrangeiro é indigno da película. Se fosse para concorrer à melhor filme na marra, eu fazia cara feia mais ainda ficava na minha. Mas Oscar é um evento americano, para filmes americanos, e até filmes britânicos nem sempre são muito bem recebidos por lá. Mas como falam inglês eles ainda aceitam. Agora um filme legendado, de um país que eles não conseguem entender os problemas, concorrer contra a Árvore da Vida de Malik ou talvez o esperado “Os Homens que não amavam as mulheres?” de David Fincher? Eu acho difícil. O próprio “Os Homens que não amavam as mulheres?” original sueco era um filme digno de concorrer ao Oscar, mas o que eles fazem? Uma versão dublada pelo 007. Mas estamos falando de Brasil e de um ministério da cultura bem...bem, então é perfeitamente compreensível eles irem chorar por um Oscar de melhor filme estrangeiro, que com certeza não vem, para um filme 100% nacional que vale muito mais. E sim esse Oscar não vem, pois não existe uma rocinha ou morro do alemão em Miami para eles entenderem nossos problemas e a crítica social do filme. E sobre a política, eles não entendem nem sobre a política deles que só tem DOIS partidos! =D

Não desmerecendo o Oscar, lógico que não. Os filmes AMERICANOS que concorrem a ele são realmente obras de arte e muitos bons. Eles merecem estar lá. Mas se você acha que torcer por Tropa de Elite 2 ganhar um premio americano é questão de patriotismo desista, pois além de nada patriótico, NINGUÉM ganha de americanos em questão de patriotismo. Mas vamos ser patriotas em pensar que Tropa de Elite 2 é uma prova que nossa cinema nacional agora é um cinema de peso, capaz de produções incríveis. O filme é bom e o filme é brasileiro, feito por brasileiros, PARA brasileiros. Não precisamos de um Oscar para provar o valor dele. Basta ser inteligente e compará-lo com outros filmes nacionais e outras produções de 2011 para ver sua qualidade. Não uma simples estatua de ouro que vai o tornar melhor. A sua incrível bilheteria já fala por si só. E digo mais, se um dia fizerem uma versão americana disso (o que felizmente é difícil, mais uma vez por diferenças de cultura) eu vou ser o primeiro a vaiar.


Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro

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